domingo, 18 de abril de 2010

Ushuaia

Finalmente, vamos ao que interessa: o relato da viagem. Se você acompanhou meu roteiro verá que o primeiro ponto da minha viagem foi Buenos Aires, com a qual não gastarei muito tempo. Já conhecia Buenos Aires e não era meu foco na viagem. Serviu apenas de ponte na viagem, além do mais o  Hotel de La Paix, onde passei a noite anterior ao embarque para Ushuaia, apesar de resquícios de uma época mais gloriosa, tem um ar decadente, com quartos pequenos e abafados. Está longe de merecer o prefixo Gran e as três estrelas que ostenta.
Vamos ao começo "de facto" da viagem: a visão do gelo flutuando no atlântico sul. Acordando após um cochilo nas quase quatro horas de viagem à Ushuaia, olhei pela janela do avião e enxerguei o gelo flutuando no mar.



Nesse momento senti que que estava realmente concretizando o meu sonho. A excitação foi aumentando a medida que eu sobrevoava o canal de Beagle e atingiu o ápice quando sai do ambiente aquecido do aeroporto e senti o vento gelado da Patagônia soprar no rosto enquanto observava o cume gelado das montanhas que circundam Ushuaia. Adoro o frio, as montanhas e o mar! E tudo isso estava ali, em um só lugar, a minha disposição!
Tomei um táxi e fui direto ao hotel Alto Andino. Esse hotel merece destaque, pois foi o melhor hotel onde me hospedei durante toda a viagem. Da janela do quarto eu avistava as montanhas e as instalações eram novas e bastante confortáveis como podemos ver nas fotos.
 
Além disso, a equipe de atendimento foi muito atenciosa, chegando a fazer o check-in web do meu vôo para El Calafate.
Tomei um bom banho, me recompus e fui fazer um breve reconhecimento pela cidade. 
Ushuaia atrai muitos aventureiros. De saída fotografei uma motocicleta BMW, que mais tarde, através do link Lets Ride for the Cure, acabei descobrindo que pertencia a um americano, Stuart Endsley, em uma jornada da Califórnia a Ushuaia para arrecadar fundos para uma instituição de combate ao câncer.

Stuart perdeu a esposa após uma batalha contra um câncer de mama e ovários.
Mas vamos a assuntos mais divertidos: Ushuaia tem alguns pubs e um deles atraiu mais a minha atenção - o Bar Ideal.

Possui a aparência sombria, típica dos pubs irlandeses. Mais tarde voltei lá e encontrei alguns jovens franceses se deliciando com uma tábua de frios e bebendo chope. A forma descontraída como se alimentavam chamou minha atenção: pegavam as fatias de frios que estavam dobradas sobre a tábua com as próprias mãos, sem talheres.

O clima acolhedor  e agradável do pub, mais aquela cena de confraternização acentuaram meu sentimento de solidão no fim do mundo. Foi um dos primeiros momentos, entre tantos, onde senti falta de companhia para dividir o clima acolhedor de Ushuaia.
Talvez seja o vento gelado e o frio da rua contrastando com os ambientes acolhedores, aquecidos por calefação, existente em quase todos os locais, que contribua com esse sentimento de necessidade de socialização. É algo ancestral, antigo, própria da espécie humana, que deve ter iniciado com as tribos pré-históricas, ao se reunirem em torno das primeiras fogueiras.

domingo, 21 de março de 2010

O Equipamento

Não posso deixar de abordar a questão de equipamento  e vestuário, por que em outras épocas eu teria achado que roupas e calçados específicos seriam ”frescuras”, preocupações sem relevância. Entretanto, algumas preocupações com isso foram essenciais para manter a minha segurança e a saúde íntegra o suficiente para tirar o melhor proveito possível da viagem.
O Nelson, da Rota Aletrantiva, me auxiliou muito, enviando uma lista de tudo que seria útil, entretanto, vou comentar somente aquilo que considerei mais crítico:

DSC02404

Botas de Trekking: deixei para comprar na última hora, dois dias antes da viagem. Já comecei quebrando uma das regras: realizar um período de adaptação ao calçado antes da viagem! Felizmente, fui orientado pelos vendedores a escolher um modelo mais macio, de fácil adaptação e consegui sobreviver ao primeiro dia rodando 10 km com ela sem maiores problemas. Quanto ao modelo, comprei uma Nômade Finisterre, impermeável, cano alto. Essas botas foram responsáveis por evitar diversas torções, protegendo meus pés contra choques com pedras e galhos e mantendo-os sempre secos. Nota 10 para as botas! Além delas, levei somente um par de tênis.

Meias: aproveitando o contexto, as meias também foram importantes. Grossas, auxiliaram na adaptação com as botas e, como eram especiais para trekking (selene), mantinham a umidade afastada dos pés.

Casaco ou campeira, como chamam por lá: quando ouvirem falar em vento patagônico levem a sério! Venta sempre, as vezes muito forte, reduzindo bastante a sensação térmica. Com certeza, depois das botas, esse casaco foi o vestuário mais importante. Essa questão foi resolvida graças ao meu amigo Ed, que prestativamente ofereceu seu casaco impermeável Colúmbia. Na verdade eram dois: o primeiro externo, impermeável, e o segundo interno, parecido com moletom, para aquecimento, e que poderia ser removido quando estivesse mais quente. Esse casaco me protegeu durante todos os dias da viagem, mostrando-se adaptável as repentinas variações climáticas da região.

Blusa Térmica: essa, para mim, talvez fosse a maior “frescura” de todas. Para que uma blusa térmica, com tecido tecnológico que mantém o calor, ao mesmo tempo em que afasta a umidade! Com certeza as velhas blusas de algodão e lã dariam conta do riscado! Ledo engano, graças a Deus venci o preconceito e comprei uma ótima blusa Solo que foi usada em praticamente todos os dias da  viagem. Mostrou-se perfeita nas trilhas de montanha, onde começamos a caminhar com frio, mas logo após os primeiros minutos já começamos a transpirar. Depois, quando paramos próximos aos glaciares no fim da trilha o frio e o vento atacam novamente. Nessas condições a regulagem térmica do vestuário é essencial.


Calça: levei algumas calças de abrigo, pensando que se prestariam bem para a caminhada mas não tive muito sucesso. Após três ou quatro dias tive que comprar uma calça de montanhismo Ansilta, tipo cargo, leve, com tecido sintético que transpirava e secava rapidamente.


Bastão: por falta de preparo muscular adequado, na primeira caminhada de 10 km senti um pouco o joelho direito. Essa lesão me forçou a usar bastões de madeira improvisados para poder apoiar o peso do corpo, principalmente em descidas. Dessa forma, o bastão ajudou a proteger o joelho. Não sei se esse é o uso adequado, mas me pareceram úteis e era bastante comum encontrar pessoas utilizando-os  na trilha.



Mochila: também achei que seria bobagem comprar uma mochila específica para a caminhada, mas acabei comprando uma mochila pequena, de ataque, da Trilhas e Rumos. Bastante ergonômica, ela cumpriu bem seu objetivo, que era acomodar e proteger o lanche do almoço, água e câmera fotográfica. Havia uma capa impermeável fixa à parte de  baixo da mochila, bastante apropriada para as repentinas trocas climáticas da região

Demais: gorros, luvas e mantas foram importantes para aplacar o vento gelado. O sol também é implacável, por isso foi importante também, dispor de bonés e protetores solar e labial, pois o vento e a baixa umidade ressecam a pele. Roupas de baixo, tipo “ciroulas” também são necessárias as vezes. Para essa função acabei usando as tradicionais, de algodão, mas fiquei com um pouquinho de  arrependimento de não ter comprado uma calça underware em El Calafate, do mesmo tecido da minha blusa térmica, não era cara e parecia muito boa!  Ah! Já ia esquecendo o mais importante, água! O Nelson enfatizou muito essa questão e ela realmente é muito importante, a caminhada nos desidrata rapidamente e embora houvesse fontes potáveis de água pelo caminho, foi importante sempre conduzir uma garrafa de 1,5 litros de água.

Como minha atividade era basicamente o trekking, a minha vestimenta não variava muito. Assim, acabei levando muita roupa que não utilizei, como camisetas de manga curta e as calças de abrigo que citei antes. Outras, como moleton e blusão de lã, acabei usando somente durante passeios. Não leve roupa demais!

sábado, 13 de março de 2010

Patagônia - do Sonho à Realização


 Lá vamos nós... Que maravilha, a mesma tecnologia móvel que nos aprisiona, também nos liberta. Nesse momento, estou no metrô digitando em um netbook aproveitando algum tempo livre para atualizar o blog.
Mas vamos ao que interessa: como começou esse projeto da Patagônia ? Essa história toda começou há mais de 15 anos, quando a internet ainda não era popular. Gosto de clima frio e tenho paixão por fotografia de paisagens. Sempre fui atraído por aquelas paisagens características de regiões temperadas, com lagos e picos nevados ao fundo. Nessa ocasião vi algumas imagens do parque Torres del Paine em uma revista de turismo e foi amor a primeira vista. Então resolvi escrever para os consulados da Argentina e Chile pedindo material publicitário sobre turismo e conheci todo o potencial turístico dessa região tão próxima.
Após todo esse tempo, todos os fatores necessários (principalmente dinheiro :-) convergiram para que nesse verão de 2010 o sonho finalmente se concretizasse. Normalmente, trato do planejamento dos roteiros pessoalmente, mas isso toma tempo, recurso que não dispunha, tanto que, mesmo com consultoria especializada, os preparativos foram finalizados no limite do prazo disponível.
Com as férias marcadas para o final de fevereiro, no início de Janeiro parti de uma ideia de um roteiro que me colocasse em um contato íntimo com a paisagem dos parques nacionais da Patagônia. Consultei algumas agências de turismo tradicionais mas as propostas não eram o que eu estava buscando. Em último caso, iria na cara e na coragem, tentando me adaptar e aproveitar da melhor forma cada local, por conta própria quando lá chegasse. Essa estratégia funciona bem quando temos um prazo bastante elástico para a viagem. Infelizmente não foi o caso, minha janela de tempo era do dia 25/01 a 13/02. Um roteiro muito caótico poderia colocar em risco o aproveitamento e consequentemente o investimento na viagem. Assim, passei a buscar agências turísticas especializadas em turismo com viés ecológico. As coisas começaram a evoluir, uma proposta de roteiro começou a tomar corpo, mas ainda não era adequada. Conversando com alguns colegas de serviço sobre a viagem, descobri que uma colega havia feito um roteiro bastante similar a minha ideia. Dessa forma, acabei chegando ao Nelson, da Rota Alternativa Turismo, que trabalha há bastante tempo com a Patagônia.
A partir daí as coisas evoluíram rapidamente, a questão do contato íntimo com a natureza foi resolvida através da programação de circuitos de trekking em trilhas dos parques nacionais. Expliquei minhas expectativas e fechamos o roteiro básico na seguinte proposta:

25/01 - Porto Alegre / Buenos Aires
26/01 - Buenos Aires / Ushuaia
27/01 - Ushuaia
28/01 - Ushuaia / El Calafate
29/01 - El Calafate
30/01 - El Calafate
31/01 - El Calafate / El Chalten
1°/02 - El Chalten - Trilha Fitz Roy
02/02 - El Chalten - Trilha Cerro Torre
03/02 - El Chalten / Torres del Paine
04/02 - Torres del Paine - Trilha ao Glaciar Grey
05/02 - Torres del Paine - Trilha  Vale do Francês
06/02 - Torres del Paine - Trilha Torres del Paine
07/02 - Torres del Paine / Calafate / Buenos Aires
08/02 - Buenos Aires / Porto Alegre

Montado o roteiro básico, partimos para a compra das passagens aéreas, tentando obter ainda um bom preço. O pessoal do Nelson cotou a melhor relação custo/benefício, considerando datas alternativas de embarque. Comprando todo o circuíto aéreo pela Aerolineas Argentinas, principal operadora da região, com aproximadamente 20 dias de antecedência ainda obtivemos um preço bastante razoável: R$ 1.180,00 com a maioria das taxas. 


Vôo                  Data        Trecho                                             Partida        Chegada

AR1229Q         25JAN      Porto Alegre - Buenos Aires               1925            2010
AR2898W        26JAN      Buenos Aires - Ushuaia                       1140            1515

AR2898Q         28JAN      Ushuaia - Calafate                              1600            1725
AR1807Q         07FEV      Calafate - Buenos Aires                      2038            0033

AR1228W         08FEB      Buenos Aires - Porto Alegre              1610            1845

Bom, nesse ponto já tínhamos as passagens confirmadas e os dias de permanência em cada local. O Nelson partiu então para o fechamento do pacote terrestre, que realmente é o seu foco, reservando hotéis, passeios, aluguel de automóvel e outros detalhes. Enquanto isso discutíamos, os detalhes da minha programação diária em cada local. Essa programação vou detalhar a medida que for relatando cada dia da viagem, espero não esquecer nada!

Por enquanto é isso! Já me estendi além do pretendido. Na próxima oportunidade quero comentar algo sobre os preparativos, principalmente vestuário e equipamento próprio para essa proposta de viagem. Dispor do vestuário adequado foi essencial para minha proteção e bom aproveitamento da viagem.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Imagens da Patagônia


DSC02803, upload feito originalmente por Geovane Gonçalves.
Após vários anos trabalhando com tecnologia e me divertindo com fotografia, me rendi à internet e resolvi criar um Blog.
A motivação principal, responsável por romper a inércia, foi preservar e documentar a experiência fascinante de uma viagem pela Patagônia Argentina e Chilena, um sonho acalentado por mais de 15 anos.
O cenário que visitei é fantástico demais e exige ser "compartido" com todos. Assim, além da coleção de imagens postada no flickr, pretendo relatar o dia-a-dia do meu roteiro, de maneira descontraída, relatando as experiências mais marcantes.
Espero que os relatos auxiliem e estimulem os futuros visitantes desse paraíso tão próximo de nós!

Enjoy!